Reportagem
VENHA CONNOSCO NUMA VIAGEM PELA VIDA E OBRA DE ABEL BOTELHO

Vamos conhecer Abel Botelho

Conhece-se de Abel Botelho que foi escritor, romancista, oficial do Exército Português e diplomata mas Abel Botelho tem mais que se lhe diga: foi casado, não teve filhos, passou muito da sua juventude na Quinta do Serro, em Santo Aleixo, e o seu irmão foi jornalista no jornal Primeiro de Janeiro.  A bandeira portuguesa está directamente ligada à figura deste ilustre tabuacense que foi também Ministro de Portugal na Argentina.

 

Venha connosco numa viagem pela vida e obra de Abel Botelho


Abel Acácio de Almeida Botelho nasceu em Tabuaço no dia 23 de Setembro de 1854, filho de Luís Carlos de Almeida Botelho, major de infantaria e professor de liceu, e de Maria Preciosa de Azevedo Leitão, senhora de respeito e de família abastada de Tabuaço, os Azevedo Leitão. A localização da casa onde teria nascido ainda é controversa mas está assinalada na Rua das Ameixoeiras, em Tabuaço, e é motivo de visita por turistas e visitantes que cada vez mais se mostram curiosos pela figura do escritor.

Os pais desejavam a carreira académica para o filho mas,com a morte do pai, Abel Botelho acabou por ingressar como pensionista do Estado no Real Colégio Militar. Estávamos em 1867. Permaneceu no Colégio por mais ou menos 6 anos, tornando-se num aluno distinto e exemplar ao conquistar vários prémios em todas as cadeiras. Mal Abel sabia que um século depois também ele teria um Prémio com o seu nome, instituído em 2003 pela Câmara Municipal de Tabuaço, destinado aos melhores alunos da sua terra natal, onde inclusive o Agrupamento Escolar arrecada também o seu nome – Agrupamento de Escolas Abel Botelho de Tabuaço. Além da Escola, recebe também o seu nome o Parque nas suas imediações e o Museu que pretende ser o Centro de Estudos do autor e que encerrará o seu vasto espólio.

Mas voltemos à vida de Abel Botelho.

Terminado o colégio e tendo passado ainda pela Escola Politécnica e pelo curso de Estado-Maior do Exército, Abel casa a 18 de Maio de 1881 com Virgínia de Alcântara Pinto Guedes de Vasconcelos, natural de Lamego, onde pertencia a uma família abastada e cujo pai era também coronel do Estado-Maior. Quis o destino que do seu casamento com D. Virgínia não nascessem filhos.

Quatro anos após o seu casamento, em 1885, é publicada a sua primeira obra – Lira Insubmissa – que ele começou a escrever ainda frequentava a Escola Politécnica. Trata-se de um livro de versos, aliás, a poesia marca a primeira fase da obra de Abel Botelho, onde a temática nada se relaciona com a restante obra. Enquanto poeta Botelho faz sobressair o culto da pátria e da Língua Portuguesa, da arte e da sua terra natal.

Seguiram-se outras grandes obras, característica e corajosamente críticas da sociedade da época e dos vícios que a assolavam, nomeadamente O Barão de Lavos (1891), Lázaros (1904), Fatal Dilema e Sem Remédio (1900) ou Amor Creoulo (1913), a sua última obra. Assim era Abel Botelho e assim se encontra a utilidade e o fundamento maior da sua obra quando, numa sociedade de poder com a qual ele priva, as suas histórias habilmente põem a descoberto os equívocos e as falhas dessa sociedade abordando temas como a depravação, o adultério, a corrupção e até a homossexualidade.

Os textos para teatro são outra paixão do escritor. Tão brilhantes quanto polémicas, as comédias escritas por Abel Botelho causaram grande escândalo quando levadas à cena, como é o caso de Jucunda, Claudina ou Vencidos da Vida. Germano, escrita em verso, foi inclusivamente rejeitada no teatro D. Maria e o escândalo acabou por se repercutir quando acabou publicada em 1896.

Foi na casa de Abel Botelho, habitava ele o 3.º andar do n.º 19 da Travessa do Salitre, em Lisboa, que se fizeram as primeiras reuniões que viriam a dar origem às tertúlias do famoso  “Grupo do Leão”,  imortalizado na famosa tela de Columbano Bordalo Pinheiro, que reunia nomes como Cesário Verde, José Malhoa e, entre outros, os irmãos Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro.

Ao nosso conterrâneo se deve também o projecto gráfico da Bandeira Nacional Portuguesa uma vez que, enquanto relator, integrou a Comissão que o desenvolveu. Ao pensar na Bandeira Portuguesa Abel Botelho pensou em Portugal: o verde representa a esperança e o vermelho o sangue derramado pelo povo português nas muitas guerras que travou.

Abel Botelho, tal como o irmão Luís Botelho, que foi redactor do Primeiro de Janeiro, destacou-se também enquanto jornalista, colaborando assiduamente em diversas publicações da época, inclusivamente no jornal O Século e no Diário da Manhã. Foi, aliás, a sua colaboração com este jornal que permitiu a publicação de vários contos da sua autoria, reunidos depois na obra Mulheres da Beira (1898) e onde encontramos O Cerro, a obra que retracta a terra natal, e onde descreve pormenores da vila de Tabuaço, o Fradinho e a Quinta do Cerro, em Santo Aleixo.

A obra de Abel Botelho não se fica, no entanto, pela literatura...

Faz uma carreira brilhante enquanto oficial do Exército Português onde ingressou, ainda como soldado raso, galgando os mais altos postos até chegar a coronel. Foi chefe do Estado Maior e em 1911 é nomeado Ministro da República em Buenos Aires, cargo de extrema importância uma vez que a Argentina, graças à influência deste tabuacense, foi o primeiro país a reconhecer a República Portuguesa após a instauração republicana em 1910.

Abel Acácio de Almeida Botelho faleceu no dia 24 de Abril de 1917, em Buenos Aires, no exercício das suas funções enquanto Ministro de Portugal na República da Argentina, cargo que ocupava desde 1912. 

A morte de Abel Botelho foi notícia na imprensa argentina e a figura do Tabuacense foi homenageada com admiração e respeito. O governo argentino prestou-lhe todas as honras de um funeral oficial tendo sido decretado um dia de luto nacional e uma salva de 21 tiros no seu enterro, no Pantheon de Colonia.

Os restos mortais de Abel Botelho foram trasladados para Portugal a 25 de Fevereiro de 1930. O seu corpo está no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, no jazigo da família.


Manuela Martins

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