PR1
– VALE DO TEDO
O
concelho de Tabuaço engloba 8 percursos pedestres sendo um deles transeuropeu
designado de GR14. Trata-se de um percurso de grande rota que liga Vila Nova de
Gaia a Estrasburgo, na Alsácia e está denominado de “Rota dos Vinhos da
Europa”. Todos os outros são PR (pequena rota), mas que juntos conseguem
perfazer cerca de 92 km de caminhada com vários desníveis e graus de
dificuldade e que nos levam a atravessar vinhedos, calçadas romanas, vislumbrar
as serras, anfiteatros de vinha, todo um património paisagístico, arquitetónico
e cultural à distância de um bom par de sapatilhas.
Hoje
vamos conhecer o PR1 – Vale do Tedo - um percurso circular com uma distância
que, dependendo da opção de caminho a escolher, poderá estar entre os 7,7 km e
os 12,5km e onde os desníveis se diferenciam entre os 300 e os 580 metros se
nos decidirmos pela maior distância.
O
percurso do Vale do Tedo tem como pontos de partida e chegada o Jardim
Histórico da freguesia da Granja do Tedo e embora se calcule entre 3 a 5 horas
para se terminar o percurso, ele pode ser feito durante todo o ano, seja no
âmbito desportivo, paisagístico, biológico ou histórico-cultural.
O percurso inicia-se na Granja do Tedo, uma das mais pitorescas povoações do concelho de
Tabuaço. É uma aldeia carregada de lendas, costumes e tradições e onde as
figuras do cavaleiro cristão D. Tedon e a princesa moura Ardínia parecem ainda habitar.
Embora conte já com equipamentos turísticos modernos, como a praia fluvial, a
piscina pública e um bar que lhes serve de apoio, a Granja do Tedo soube, ao
longo do tempo, preservar a traça original das suas casas, beneficiando de um notável
enquadramento paisagístico, onde o rio, o vale e a montanha nos inspiram à
caminhada e à descoberta.
Ao aproximar-se de Granja do Tedo, descendo a encosta, não deixe de
observar os dois lugares que compõem a aldeia – o Povo de Baixo, o mais antigo,
e o Povo de Cima. Estão separados pelo rio Tedo mas unidos por uma sólida e
antiquíssima ponte de cantaria, de arco único. Deixe o seu automóvel no largo junto ao café D. Thedon e caminhe em
direção ao Jardim Histórico. É provável que consiga observar algumas espécies
de aves associadas aos cursos de água, como a alvéola-cinzenta, guarda-rios ou
mesmo o melro-d’água.
Passado
o Povo, entramos num verdadeiro vale encantado que reflete uma perfeita harmonia
entre a ação do Homem e a Natureza. Inúmeras pequenas hortas são cultivadas de
forma artesanal com cereais, legumes e batata. Mas uma cultura predomina na
forma de arbusto ou pequena árvore – o sabugueiro. Floresce em Abril-Maio e a
colheita é feita em Outubro com destino à exportação, essencialmente para uso
farmacêutico. A apanha da baga constitui uma atividade tradicional local e
representa uma mais-valia económica. A baga é também empregue para dar cor ao
vinho, para fazer sumo, marmelada ou chá.
Durante
a caminhada vai
com certeza deparar-se com as plantas aromáticas e medicinais muito abundantes
no trajecto. É o caso do funcho ou erva-doce, o hipericão ou milfurada
conhecido como um calmante natural, os orégãos e a perfumada alfazema. Há
uma diversidade enorme de flores silvestres neste percurso, como a papoila, a
dedaleira, a borragem, a violeta e a silva, entre muitas outras. Ainda do ponto
de vista da flora, encontramos nesta vale algo raro em toda a região: um bosque
misto de zelha, freixo, loureiro, pilriteiro e abrunheiro, característicos de
fundos de encostas sombrias com escorrência superficial de água.
Depois de passar por uma sumptuosa casa em ruínas,
onde até há poucas décadas atrás funcionaram as caldas de D. Moira que atraíam
centenas de pessoas pelas suas águas termais e propriedades curativas, é já
possível avistar a Ribeira de Goujoim. É um lugar quase abandonado mas
encantador, onde as suas velhas casas de granito, com típicas varandas de
madeira debruçadas sobre o rio, seguem o percurso ziguezagueante da única e
íngreme rua da aldeia que é, na verdade, uma antiga e estreita calçada onde não
circulam automóveis. Ao subi-la, deparamo-nos com a capela, em cujo pequeno
adro uma amoreira, quase tombada sobre a calçada, nos oferece nos meses de
verão, os seus deliciosos frutos.
Vale a pena parar junto à última casa da aldeia e
a umas “alminhas” com mais de cem anos, não só para recuperar o
fôlego mas também para apreciar o exuberante matagal mediterrâneo que veste
este vale. Agora, é altura de decidir se
opta pela opção mais curta ou mais longa do percurso. No primeiro caso, vai
subir, à direita, por um magnífico trilho de montanha, formado por grandes e
pesadas pedras habilmente alinhadas, que permitia vencer a ingreme encosta e
chegar à aldeia de Carrazedo. Imagine a vida por estas paragens há cinquenta
anos atrás, quando não havia estradas nem automóveis, só trilhos…como este!
Ao
tomar a direcção de Carrazedo, depois de atingir a estrada, passa pela capela de
Nosso Senhor do Calvário. O regresso à Granja do Tedo faz-se agora pela estrada
panorâmica que liga as duas povoações. Pelo caminho, facilmente se destaca
outra actividade tradicional por aqui – a extracção de cortiça.
Se
optar pela opção mais longa vai dirigir-se para Pinheiros, percorrendo os
trilhos antigos que quase caíram em desuso, mas que foram inteligentemente recuperados.
Já na estrada, vai deparar-se com um raro exemplar de arte rupestre na
Península Ibérica, o designado “ Cabeço
das Pombas”. Os motivos representados são enigmáticos e assumem um forte
valor simbólico, atestando a importância deste local como antigo lugar de
culto. O aprazível parque de merendas aqui construído convida a uma paragem
mais demorada.
O
acesso a Vale de Figueira faz-se pela serra. Vai subir e descer uma das suas
vertentes por caminhos recentes de terra batida. À saída, seguimos, à esquerda,
pela estrada de terra. Entramos num vale onde, junto à linha de água, se
pratica uma agricultura tradicional em incontáveis pequenos socalcos. Dominam
as culturas do sabugueiro, do milho, da batata e dos produtos hortícolas.
Ao
chegar à estrada, o percurso segue agora por uma antiga calçada de pedras
graníticas que percorre o mesmo vale até chegar à Granja do Tedo. A rua da Lameira mostra-nos uma parte
muito antiga do Povo de Cima. Repare, por exemplo, na velha casa com um
alpendre enorme que cobre a rua, na Igreja, do século XVIII, datada de 1741, e
no pelourinho. Há também aqui um belíssimo solar setecentista.
Está
novamente na Granja do Tedo. Acabou de fazer um dos mais belos percursos
pedestres da Europa.
Vamos
ao próximo?
Manuela Martins
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