Reportagem
RIJOMAX: o mais completo, complexo, exótico e insólito relógio que se conhece

Amândio José Ribeiro nasceu em 1912, 18 de novembro, na freguesia de Santa Eufémia, no concelho de Pinhel. No entanto, passou praticamente toda a sua vida em Tabuaço. Viveu 90 anos e construiu o mais completo relógio do mundo. Venha conhecer o RIJOMAX…

 

Imaginemos uma pequena freguesia, no concelho de Pinhel, e nela um pequeno rapaz que fazia “rodinhas” para relógios. Ainda não tinha idade de entrar para a escola, mas estamos já perante a criança que se há-de fazer homem e vir a ter o seu nome e a sua obra no livro do Guiness.

Concluiu a 4.ª classe e foi para Trancoso trabalhar numa ourivesaria. Tornou-se num homem simples, humilde, sem o título académico que, à época, lhe conferisse a postura de sábio. No entanto, era-o.  

Relojoeiro e ourives de profissão, com muito talento e arte, veio para Tabuaço onde tinha a sua própria ourivesaria, no Largo 5 de Outubro. Aqui constituiu família e viveu toda a sua vida.  Lidava com o público numa maneira de estar muito calma e tinha paciência para os miúdos que ali entravam para ver as suas excêntricas criações. “Podem ver mas não podem mexer”, alertava tantas vezes o Sr. Amândio, que guardava as suas peças em móveis de madeira envidraçados, na sua loja de soalho, já gasto pelo tempo, e que quando a ganapada entrava fazia tremer os seus mostruários.

Embrenhado no meio de relógios, com os quais lidava desde muito pequeno, foi criador de várias peças. No entanto, a sua maior obra seria, sem sombra de dúvida, o RIJOMAX.

Levou mais de vinte e oito anos a construir esta extraordinária invenção que tem deixado perplexos inúmeros técnicos vindos de várias partes do mundo para observarem e compreenderem a tão misteriosa máquina, capaz de confundir e deixar atónitos os mais credenciados mestres e especialistas em relojoaria.

 

Esta é uma obra misteriosa que continua a mexer com o imaginário de quem o olha e tenta compreender os seus segredos

 

Rijomax é o acrónimo de Amândio José Ribeiro que dedicou mais de 16 mil horas de trabalho à constituição do relógio que demorou 28 anos a ser construído, entre 1945 e 1973. Com a patente n.º 12931, possui mais de 16 mil algarismos e letras, pesa cerca de 150 kg, mede mais de 2 metros de altura e conta com 45 mostradores. Tal é o engenho e a arte colocados nesta obra misteriosa que tinha capacidade para funcionar durante milhares de anos com uma margem mínima de erro e desenvolvia 34 funções em simultâneo. O Rijomax está programado para funcionar durante 10 mil séculos, em ciclos de 6272 anos, e tenta corrigir esta discrepância com a introdução do ano bissexto, de 366 dias, de quatro em quatro anos.

Não admira, portanto, que a obra e o nome do menino das rodinhas que se fez o senhor do relógio do Guiness atraiam anualmente a Tabuaço milhares de curiosos para ver de perto e tentar compreender aquele que é o exemplar de relojoaria mais completo, complexo, exótico e insólito que se conhece. Não admira, também, que o nome do autodidata Amândio Ribeiro conste na galeria dos relógios famosos da história universal.  

 

Dizia o Pe. António Vieira que “todo o relógio perfeito não só dá horas mas também tem um braço que as aponta”. Ora, falando de perfeição, o Rijomax indicava os movimentos aparentes do Sol e da Lua, segundos, minutos, 24 horas, hora universal, hora lunar, assinalava anos bissextos, suprimindo automaticamente 24 anos de 128 em 128 anos.

Indicava o nascer e o pôr-do-sol, quando crescem e decrescem os dias, assinalava o dia e a noite, com escala diária de quantas horas e minutos tem o dia e a noite. Marcava os Equinócios, os Solstícios e as fases da Lua com luz que recebia do dito Sol.

Indicava as semanas e os dias da semana; os meses, os dias dos meses e quantos dias faltavam para o fim do mês; os anos, os dias dos anos e quantos faltavam para o fim do ano; as estações e os dias das estações; os signos e os dias dos signos; os semestres, os trimestres e a indicação em que dia da semana começa cada mês, e se o ano fosse bissexto. Indicava as datas das fases da Lua e a mudança de tempo.

Tinha, ainda, indicação dos números do Ciclo Solar, do Número Áureo, da Epacta, letra Dominical, as Eras cronológicas, os dias da Era de Cristo, e os séculos.

Assinalava os feriados, os dias dos Santos e as Festas móveis. O Rijomax era constituído também por barómetro, termómetro e mostrador dos pontos cardeais. Despertava por música à escolha, por campainha, e acendia a luz a toda a hora desejada. Falava, dizendo quantas horas são e dava uma saudação em vocabulário religioso; e com ele tinha também um aparelho que chamava o dono da casa.

 

Ao contrário do que dizia o Pe. António Vieira, sobre o relógio perfeito, o Rijomax está parado mas não deixa, no entanto, de ser o mais perfeito de todos os relógios. Acima de tudo porque, mesmo inactivo, ele mexe com o imaginário de cada um de nós. E no seu perfeito marasmo ainda nos faz olha-lo e procurar o nosso tempo e o nosso espaço na sua construção. Cada um que o vê, inevitavelmente, procura o seu signo, o santo que lhe corresponde com a data de nascimento, entre outras informações que o Rijomax, ainda que parado, nos consegue dar.

E assim, perante o Rijomax, na sua perfeição, na sua quietude, olhamos para um relógio parado como se ele ainda estivesse em funcionamento…


Manuela Martins

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